POMPEIA - Imagens relacionadas com o post anterior
terça-feira, 27 de agosto de 2013
domingo, 25 de agosto de 2013
PASSADO PRESENTE: A morte de Pompeia
tradução das pp. 7 a 11 de
Un
giorno a Pompei, vita quotidiana, cultura, società, Eva Cantarelli e Luciana Jacobelli
Pompeia morre entre a tarde do dia 24 e a
manhã do dia 25 de Agosto, de 79 d.C. Imprevistamente, no dia 24, o Vesúvio
lança uma enorme quantidade de lapili, lava e gás venenoso que destruiriam para
sempre a cidade, juntamente com Ercolano, Stabia e Oplontis.
Ainda que pareça estranho, o acontecimento colhe desprevenidos
os habitantes de Pompeia. Eles sabiam que viviam numa zona sísmica: 17 anos
antes, em 62 d.C., um forte terramoto tinha provocado o desabamento e
danificado muitos edifícios que estavam ou fechados ou ainda a ser restaurados.
Nos anos subsequentes outros tremores de terra teriam provavelmente ocorrido na
zona, provocando outros danos que tais como os de 62 eram ainda visíveis no
momento da erupção. Nesta data de facto a colunata da Basílica continuava por
terra e dos edifícios termais só estava aberto ao público a secção masculina
das termas do Foro; dos três edifícios dedicados a espetáculos só o anfiteatro.
A Palestra Grande estava a ser restaurada. Os terramotos eram uma calamidade
anunciada.
Mas a erupção do Vesúvio não era esperada
por ninguém, pois a última erupção tinha tido lugar antes de Pompeia ter começado
a existir, no séc. VII a.C.
Quando o longo sono do vulcão terminou
naquele dia 24 de Agosto, a explosão foi espetacular, como se verifica quer
através da análise dos materiais lançados pelo vulcão quer pela leitura de dois
documentos absolutamente extraordinários, as duas cartas de Plínio, o Jovem,
que descrevem as diferentes fases da erupção.
Quando a erupção começou, ele encontrava-se
na Campânia com o seu célebre tio Plínio, o Velho, comandante da frota que
estava em Miseno. Plínio, o Velho, perdeu a vida durante a erupção e o
historiador Tácito — que tencionava relatar a morte duma tão ilustre personagem
— pede ao sobrinho para lhe descrever com exatidão os acontecimentos. E Plínio,
o Jovem, responde com a famosa Epístola VI, 16.
“Eram cerca das
13 horas do dia 24 de Agosto quando a minha mãe mostrou a Plínio (o Velho) uma
nuvem estranha quer pelo tamanho quer pela forma... Calçando as sandálias, ele
sai procurando um sítio alto de onde se possa observar melhor o fenómeno. De um
monte difícil de identificar, dada a distância (soube depois que era o Vesúvio)
elevava-se uma nuvem cuja forma só pode ser bem descrita se comparada com um
pinheiro. Com um fortíssimo tronco ramificava-se no alto, creio que empurrada
por uma força enorme, e depois talvez porque essa força se desvanecesse, a
nuvem alargava-se ora limpa, ora suja e manchada segundo a quantidade de cinza
ou terra que tinha erguido no ar.”
Como bom naturalista, Plínio, o Velho,
decidiu embarcar para poder observar o fenómeno de mais perto. Mas como o
sobrinho tem o cuidado de dar a conhecer, a sua atitude foi também um nobre
gesto de amizade: a mulher de um amigo seu, bloqueada na sua casa de campo na
encosta do monte, tinha mandado uma mensagem a pedir-lhe ajuda. A situação era
grave: “Já sobre os navios caíam cinzas, cada vez mais quentes e densas e, à
medida que se iam aproximando da zona, caíam mesmo pedras ardentes ou
incendiadas.” Plínio desembarcou no litoral stabiano (de Stabia) enquanto “no
monte Vesúvio em vários pontos brilhavam vastíssimas chamas e altas línguas de
fogo, cujo brilho se tornava ainda mais forte na escuridão da noite.” Depois de
ter tentado convencer os amigos de que se tratava de fogos feitos pelos
proprietários rurais, Plínio foi deitar-se, aparentemente tranquilo. Mas quando
se levantou “o pátio que dava acesso à sala de estar tinha-se enchido de cinza
e lapili a tal ponto que se tivesse permanecido mais uns minutos no quarto não
teria conseguido sair.” Além disso “com os frequentes e fortes abalos telúricos
a casa tremia e como liberta dos alicerces parecia andar de um lado para o
outro: na aflição temia-se a chuva de lapili embora ligeiro.”
Esperando proteger-se do lapili com os
travesseiros amarrados à cabeça, Plínio e os amigos saíram e embora fosse dia
tinha caído uma escuridão muito negra e densa. Na madrugada de 25 de Agosto Plínio
quer juntar-se à armada para ver se era possível fazerem-se ao mar, mas as
águas estavam muito agitadas para se aventurarem. Era o fim: “deitou-se sobre
um lençol esticado no chão, pediu duas vezes água fria e bebeu dum trago...
Apoiando-se em dois escravos tentou levantar-se, mas, de repente, caiu, creio
porque tinha a respiração bloqueada pelo ar cheio de densa cinza e a garganta
fechada. Quando voltou o dia, o seu corpo foi transportado ileso e íntegro,
vestido como estava e mais com o aspecto de alguém que dorme do que de um
morto.”
Recebida esta primeira carta, Tácito pede
outra informação: queria saber o que se tinha passado em Miseno, onde Plínio, o
Jovem, tinha ficado. A resposta de Plínio descreve a sua aventura até à
salvação e fornece outras informações importantes sobre a catástrofe (Epístola
VI, 20).
“Já há alguns dias a terra tremia, mas como
estávamos na Campânia o fenómeno era comum e a preocupação não era excessiva.
Naquela noite porém tremia de tal modo que tínhamos a sensação de que as coisas
não se moviam apenas mas que iriam desabar.” Quando a situação se tornou insustentável
o Jovem Plínio (era a manhã de 25 de Agosto, e o seu tio estava a morrer ou
tinha já morrido) decide deixar a cidade com a sua mãe: “uma multidão atónita
segue-os... enquanto avançávamos no meio de uma enorme multidão… os carros, que
tínhamos trazido, ainda que estivessem em locais perfeitamente planos moviam-se
e não conseguiam estar parados, mesmo seguros com pedras. Víamos o mar afastar-se
como se rejeitado pelo tremor de terra, e o litoral alargava-se e sobre as
praias apareciam muitos animais marinhos. Do lado da terra uma nuvem negra e
aterradora, rasgada de clarões sinuosos e de vapores escaldantes tornava-se em
longas chamas semelhantes a relâmpagos mas muito maiores.” Plínio então agarra
a mãe pela mão e, incitando-a a apear-se do carro, tenta a fuga a pé:”caíam
cinzas mas naquele momento eram ainda pouco densas. Voltei-me. Por trás
aparecia uma nuvem densa.”Enquanto isso caiu rapidamente a noite. ”Ouviam-se
gemidos de mulheres, choro e gritos de crianças, gritos de homens que chamavam
em altos brados os pais ou os filhos ou o cônjuge e só se reconheciam pela voz.
Muitos havia que com medo da morte pediam para morrer. Muitos outros erguiam as
mãos aos deuses, outros diziam que não havia deuses e que aquela era a última e
eterna noite do mundo.” Depois finalmente a chuva de cinza começou a rarear, a
ver-se a espaços a luz do sol que brilhava pálido como se fosse um eclipse:
“tudo aparecia mudado e coberto de um espesso estrato de cinza.”
Documento impressionante e cientificamente
relevante, esta descrição de Plínio, o Jovem, passou a ser utilizada pelos
vulcanólogos para compreender as várias fases da erupção, juntamente com a
análise do restante material vulcânico.
Na primeira carta a descrição de Plínio do
“pinheiro” vulcânico é identificada com a fase eruptiva que os vulcanólogos
chamam de “pliniana” caraterizada pela emissão de um jato de cinza e gás que se
ergue no ar formando uma enorme coluna magmática. Esta coluna cai no chão sob a
forma de pedra-pomes como o confirma Plínio e a sequência de estratos
encontrados em Pompeia. O tamanho das pedras vai aumentando com o avanço da
erupção. Isto significa que a energia vai aumentando com o tempo e a coluna é
empurrada para alturas cada vez maiores. Como o vento soprava naquele momento
para sudeste, a coluna cai sobretudo sobre as encostas oriental e meridional do
Vesúvio e atinge Pompeia. Esta fase durou cerca de doze horas e depois as
condições da erupção mudaram drasticamente.
Na segunda carta Plínio testemunha outros
fenómenos terríveis, que parecem incríveis, como o “ mar que se afasta” — que
precede a fase mais desastrosa da erupção —, a queda de cinzas que obscurece a
luz do dia, fenómenos típicos da última fase do fenómeno eruptivo. Quando a
erupção parecia abrandar porque a pressão do gás tinha diminuído criaram-se
violentos jactos de vapor alimentados pela água que tinha entrado na câmara
magmática. Os vapores espalhando-se com a velocidade de um furacão destruíram
tudo o que se encontrava no caminho. São estes os terríveis surgex, fluxos
de vapor escaldante e cheios de cinza que asfixiaram Plínio, o Velho, e com ele
muitos pompeianos que teimosamente permaneceram nas suas casas ou que tinham
regressado no momento em que a erupção parecia acalmar-se para recuperar os
bens que tinham deixado ou para roubarem as casas dos ricos. Outros foram
vítimas do desabamento dos telhados das casas sob o peso do lapili. É difícil
fazer uma estimativa de mortos. Seguramente um milhar numa população de cerca
de dez mil habitantes.
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